O dia em que me fodi


Eu e meu colega chamado Davi costumávamos andar de bicicleta pelas ruas feito malucos. Minha bicicleta era vermelha e de passar marcha, a dele era uma verde, nós dois fazíamos muitas loucuras com aquelas bicicletas, caíamos e nos ralávamos, gostávamos de passar por uma rua onde morava uma menina chamada Amanda. Amanda era uma loirinha muito gata que estudava na mesma escola em que a gente. Fazíamos de tudo para chamar atenção dela. Mas ela, é claro, nem nos dava bola.


Certo dia, Davi e eu estávamos passando pela rua da Amanda, daí encontramos o Carlos. Carlos era um menino doidinho, muito perturbado e que só nos ensinava o que não devia. Nós, é claro, não exitávamos em aprender.
Uma vez ele nos disse que podia pegar iogurte de graça no mercado. Então nós falamos:
- Nossa! Como ele consegue pegar e colocar no bolso sem que ninguém veja?
Daí fomos com ele. No primeiro dia ele pegou, eu estava com cinquenta centavos no bolso. Eu comprei, na época vendia uns mini pacotinhos que custavam vinte-cinco centavos. - hoje em dia com a inflação como está, acho melhor nem comentar o preço - Mas Carlos saiu sem pagar, eu e Davi ficamos assustados, então Davi disse:
- Cara você tá maluco? Como fez isso? Você roubou cara?
- Relaxa, eles têm muito. Nem ligam pra isso, já fiz isso várias vezes - Carlos respondeu. 
- Verdade, eles têm vários, nem devem perceber, e se não viram é por que não tem câmeras lá – eu disse.
No dia seguinte, Davi e eu estávamos andando de bicicleta pela rua, até que ele teve uma ideia:


- Marlon, vamos lá tomar um iogurte?
- Vamos sim – eu respondi todo feliz.
Ai fomos ao mercado, Davi pegou um iogurte e colocou bem discretamente em seu bolso e saiu. Deu certo, saímos rindo à toa. No outro dia, ele fez a mesma coisa. Porém, mais ousado, ele pegou dois iogurtes.
No dia seguinte fomos mais uma vez. Eu nunca pegava, pois tinha medo de ser apanhado, mas no quarto dia ele falou:
- Agora é você que vai pegar.
- Mas eu não sei fazer isso - eu respondi.
- Cara, é bem simples, basta colocar no bolso – Davi falou em seguida.
- Beleza, vamos lá então – eu falei.
Nesse dia, uma moça do caixa já estava desconfiando da gente, pois sempre ela nos via entrar e sair sem comprar nada, e iriamos sempre na seção dos refrigerados. A gente achava que já estava “manjado” do esquema de pegar iogurte. Porém, não percebemos o óbvio: é claro que alguém notaria. A moça do caixa avisou ao segurança, então nesse dia ele ficou próximo a seção dos iogurtes fazendo a ronda.



Do lado dos iogurtes tinha um bebedouro, Davi e eu fomos para a seção dos iogurtes, eu não consegui pegar, então ele pegou, me deu o iogurte e eu coloquei no bolso, quando estávamos saindo, o segurança me puxou e disse:
- Ei, ei, ei! Pode parar ai! cadê o iogurte?
- Que iogurte senhor? – Eu perguntei assustado.
- Eu vi você pegando e escondendo no bolso – nisso, todos do mercado já estavam em volta da gente nos olhando.
Ai me bateu o desespero, eu peguei o iogurte e tentei jogar ele de volta junto aos outros, mas ele caiu em cima do bebedouro, então o segurança disse:
- Vou chamar os pais de vocês!
Minha sorte é que ninguém ali sabia quem eram eles, apesar de meu pai sempre fazer compras naquele mercado. Daí ele falou:
- Não faço ideia de quem são seus pais. Quer saber?! Vou chamar é a polícia!
Eu, como a maioria das crianças, morria de medo da polícia. Então, comecei chorar, enquanto Davi ficava de cabeça baixa, e eu dizia:
- POR FAVOR, POLÍCIA NÃOO!!!



Daí, eu tentei correr, então o segurança obviamente me segurou. Eu mordi a mão dele, ele deu um berro de dor e todas as pessoas no mercado ficaram nos olhando. Eu consegui escapar dele e sai correndo, usei a cabeça e não fui direto pra casa. Já era quase a hora de ir pra escola.
Cheguei em casa e estava tudo normal, respirei fundo e pensei: “Uffa! Me livrei dessa”. Então perguntei a minha mãe:
- Mãe, cadê meu pai?
- Foi no mercado comprar gás – ela respondeu – Vai lá ajudar ele.
Eu, como qualquer um em minha situação fiquei com bastante medo, então pensei: “Ninguém sabe que ele é meu pai”.
Porém, (sempre tem um porém) meu pai na hora em que foi pedir o “maldito frete”, ele disse:
- Bom, leva ali pra mim, é na casa do Marlon.
- Que Marlon? – Pergunto o garoto do frete.
Então meu pai me descreveu da seguinte maneira:
- O garoto que fica aqui direto andando numa bicicleta vermelha.
O garoto tinha visto toda a cena do mercado, e me conhecia, então ele disse:
- Ata... o Marlon que roubou o mercado hoje mais cedo
- Roubou?! - Perguntou meu pai espantado
- Sim, ele foi pego hoje mais cedo.
Então meu pai foi falar com os seguranças pra saber do acontecido. Eu que já estava indo para escola, e pro meu azar encontrei meu pai no meio do caminho. - a escola era há menos de cem metros de casa – Então meu pai disse aquela famosa frase que vocês devem conhecer muito bem:
- Vamos para casa, quero ter conversa com você. (Um conselho pra vocês: não caiam nessa, nunca é conversa)
 Eu apanhei muito, muito mesmo, só escrevendo isso as lágrimas ainda saem dos meus olhos. Mas eu mereci, talvez do jeito que as coisas estavam indo não se sabe onde eu ia parar, pois é assim que as coisas começam.


Segundo Davi, ele foi liberado pelos seguranças, também apanhou bastante. Depois disso, nossos pais nos deixaram de castigo, e sem falar um com o outro, mas pelo menos aprendemos a lição.

 E esse foi um dos dias que eu me fodi...


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